LADO A, LADO B: A DICOTOMIA A QUE ESTAMOS
SUJEITOS. |
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Professor de Álgebra
Linear, integrante do Departamento de Matemática e Computação (DEMAC), sempre estive na UERJ. Mesmo antes de o
campus ser denominado Faculdade de Tecnologia (FAT) e da doação do prédio da
Kodak, eu já estava matriculado. Comecei minha relação com a universidade
pelo lado A, agora sou lado B e gostaria de compartilhar um pouco dessa
experiência pela escrita. Minha vida acadêmica
começou como a de tantas outras dos alunos da FAT, precedida por uma nevrose
chamada vestibular, escolhas (Engenharia de Produção, História ou
Arquitetura), pressões e a decisão aos vitoriosos de se matricularem ou não
nesse curso, tão distante (geograficamente) da maioria. Fatos que, somado aos
cálculos e preocupações dos pais com a realidade iminente, agitaram esse
período pré-universitário. Passei anos saborosos
como aluno nesse campus tão
aconchegante, que nos faz sentir mais do que matrículas e insumos para
estatísticas. Aqui, disputei vários campeonatos de futebol (de “elevadíssimo”
nível técnico): com a lendária equipe C.R(coeficiente de rendimento)>7,0,
nome que não passava de uma pacholice. Fiz parte de uma chapa que concorreu e
ganhou uma eleição para o centro acadêmico, em um pleito disputado e
polêmico. Mas no meu período como lado A, existem divisores que marcaram
a escolha pela transição para o lado B. No quarto período,
fui monitor de Cálculo de Probabilidades, fato que despertou uma vontade
desconhecida: ser professor. A
oportunidade que me foi dada e desenvolvida junto aos professores Bastos e
Pinto Bravo imbuiu-me da vontade de ser mestre, quem sabe doutor. Mas havia
um caminho, ainda longo, a trilhar no lado A. Ao término
do meu primeiro ano como monitor, frente à possibilidade de ser professor,
precisava ratificar essa possível transição. Sendo assim, tendo em vista que
o mestre é também um pesquisador, me envolvi em uma iniciação científica. A
pesquisa foi desenvolvida sob a coordenação dos professores Newton e Gonzaga,
aos quais direciono um muito obrigado. O trabalho consistia em entender e
“reproduzir” um artigo que tinha como tema Convecção Natural em Cavidades
Fechadas. Esse estudo foi decisivo e muito prazeroso, porque descobri uma
possibilidade real de satisfação pessoal através da vida acadêmica. É claro
que esta escolha não estava tão fechada assim, afinal, ainda faltavam faixas
a serem percorridas pela agulha do tempo. Contudo, o somatório das
experiências da monitoria e da iniciação científica era bastante positivo. |
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Ao fim da minha vida
acadêmica o bom combate havia sido vencido, havia me tornado um Engenheiro de
Produção (com ênfase em Mecânica). Foram muitas provas, muitas horas sentado
estudando, fins-de-semana longe de casa, muito trabalho - como estagiário e, posteriormente,
funcionário de uma montadora da região. Nessa última faixa, ainda me
preparava para ingressar no mestrado e surgia a seguinte dúvida: Estatística
ou Produção? Hoje, sou mestrando em engenharia
de produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), desenvolvendo estudos na área de Gerência de
Produção. A escolha dessa área se deu, não só em função da preferência
acadêmica, mas também em função da experiência no mercado de trabalho. Minha
experiência sempre esteve ligada à produção, como parte dela, ou como auditor
de qualidade. Nessa nova fase, compreendo melhor o esforço dos professores em
nos preparar não só para o trabalho fabril, mas também para uma vida
acadêmica. Posso constatar a qualidade da formação que tive em Resende
através do desenvolvimento de meus estudos na PUC-RIO. Estou impressionado com o acervo e a
estrutura das bibliotecas, a quantidade de trabalhos acadêmicos defendidos a
cada semana, a comunicação interna e os serviços informatizados. Enfim, só
tenho elogios à estrutura da universidade - em particular, do Departamento de
Engenharia Industrial (DEI). Já a considero, pela afinidade e pelo tempo
dedicado, minha segunda casa. Essa proximidade
temporal entre os dois lados, e o momento de dicotomia em que vivo, fazem com
que não me esqueça das dificuldades dos discentes e tome partido das dos
docentes. Mas em primeiro lugar, não me esqueço que no fundo o que queremos
(e o que a universidade propõe) é o compartilhamento do conhecimento. Os
discentes, por mais que busquem transparecer o contrário, esperam do
professor um nível e uma discussão do conhecimento cada vez maior. Queremos
sair da universidade e, através das experiências cotidianas, ter a certeza de
uma boa formação universitária. O docente aparece como pedra fundamental, não
só informando, mas formando cidadãos com ética, respeito pelo país, pelo
trabalho e pelas relações humanas. A ventura do envolvimento é a viagem do professor na qual embarco nesse momento. Deixo um agradecimento aos meus mestres, entre os quais muitos hoje são colegas de trabalho; um abraço aos meus atuais e futuros alunos e um agradecimento à professora Alzira Ramalho pela confiança em mim depositada. Por agora, minhas são as palavras de Marcelo Camelo (ex-aluno da PUC-RIO) que diz, “faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”. |
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