Revista online do Demac
www2.uerj.br/~demac

v. 1, no I, p. R12-R12, (2006)

LADO A, LADO B: A DICOTOMIA A QUE ESTAMOS SUJEITOS.
por

Arnaldo Pinheiro Costa Gaio

Departamento de Engenharia Industrial 
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil.


 

 

 

Professor de Álgebra Linear, integrante do Departamento de Matemática e Computação (DEMAC),  sempre estive na UERJ. Mesmo antes de o campus ser denominado Faculdade de Tecnologia (FAT) e da doação do prédio da Kodak, eu já estava matriculado. Comecei minha relação com a universidade pelo lado A, agora sou lado B e gostaria de compartilhar um pouco dessa experiência pela escrita.

Minha vida acadêmica começou como a de tantas outras dos alunos da FAT, precedida por uma nevrose chamada vestibular, escolhas (Engenharia de Produção, História ou Arquitetura), pressões e a decisão aos vitoriosos de se matricularem ou não nesse curso, tão distante (geograficamente) da maioria. Fatos que, somado aos cálculos e preocupações dos pais com a realidade iminente, agitaram esse período pré-universitário.

Passei anos saborosos como aluno nesse campus tão aconchegante, que nos faz sentir mais do que matrículas e insumos para estatísticas. Aqui, disputei vários campeonatos de futebol (de “elevadíssimo” nível técnico): com a lendária equipe C.R(coeficiente de rendimento)>7,0, nome que não passava de uma pacholice. Fiz parte de uma chapa que concorreu e ganhou uma eleição para o centro acadêmico, em um pleito disputado e polêmico. Mas no meu período como lado A, existem divisores que marcaram a  escolha pela transição para o lado B.

No quarto período, fui monitor de Cálculo de Probabilidades, fato que despertou uma vontade desconhecida: ser professor.  A oportunidade que me foi dada e desenvolvida junto aos professores Bastos e Pinto Bravo imbuiu-me da vontade de ser mestre, quem sabe doutor. Mas havia um caminho, ainda longo, a trilhar no lado A.

Ao término do meu primeiro ano como monitor, frente à possibilidade de ser professor, precisava ratificar essa possível transição. Sendo assim, tendo em vista que o mestre é também um pesquisador, me envolvi em uma iniciação científica. A pesquisa foi desenvolvida sob a coordenação dos professores Newton e Gonzaga, aos quais direciono um muito obrigado. O trabalho consistia em entender e “reproduzir” um artigo que tinha como tema Convecção Natural em Cavidades Fechadas. Esse estudo foi decisivo e muito prazeroso, porque descobri uma possibilidade real de satisfação pessoal através da vida acadêmica. É claro que esta escolha não estava tão fechada assim, afinal, ainda faltavam faixas a serem percorridas pela agulha do tempo. Contudo, o somatório das experiências da monitoria e da iniciação científica era bastante positivo.

 

Ao fim da minha vida acadêmica o bom combate havia sido vencido, havia me tornado um Engenheiro de Produção (com ênfase em Mecânica). Foram muitas provas, muitas horas sentado estudando, fins-de-semana longe de casa, muito trabalho -  como estagiário e, posteriormente, funcionário de uma montadora da região. Nessa última faixa, ainda me preparava para ingressar no mestrado e surgia a seguinte dúvida: Estatística ou Produção?

            Hoje, sou mestrando em engenharia de produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), desenvolvendo estudos na área de Gerência de Produção. A escolha dessa área se deu, não só em função da preferência acadêmica, mas também em função da experiência no mercado de trabalho. Minha experiência sempre esteve ligada à produção, como parte dela, ou como auditor de qualidade. Nessa nova fase, compreendo melhor o esforço dos professores em nos preparar não só para o trabalho fabril, mas também para uma vida acadêmica. Posso constatar a qualidade da formação que tive em Resende através do desenvolvimento de meus estudos na PUC-RIO. Estou impressionado com o acervo e a estrutura das bibliotecas, a quantidade de trabalhos acadêmicos defendidos a cada semana, a comunicação interna e os serviços informatizados. Enfim, só tenho elogios à estrutura da universidade - em particular, do Departamento de Engenharia Industrial (DEI). Já a considero, pela afinidade e pelo tempo dedicado, minha segunda casa.

Essa proximidade temporal entre os dois lados, e o momento de dicotomia em que vivo, fazem com que não me esqueça das dificuldades dos discentes e tome partido das dos docentes. Mas em primeiro lugar, não me esqueço que no fundo o que queremos (e o que a universidade propõe) é o compartilhamento do conhecimento. Os discentes, por mais que busquem transparecer o contrário, esperam do professor um nível e uma discussão do conhecimento cada vez maior. Queremos sair da universidade e, através das experiências cotidianas, ter a certeza de uma boa formação universitária. O docente aparece como pedra fundamental, não só informando, mas formando cidadãos com ética, respeito pelo país, pelo trabalho e pelas relações humanas.

A ventura do envolvimento é a viagem do professor na qual embarco nesse momento. Deixo um agradecimento aos meus mestres, entre os quais muitos hoje são colegas de trabalho; um abraço aos meus atuais e futuros alunos e um agradecimento  à professora Alzira Ramalho pela confiança em mim depositada. Por agora, minhas são as palavras de Marcelo Camelo (ex-aluno da PUC-RIO) que diz, “faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”.

FIM

 


R-12

E-mail: a.gaio@rdc.puc-rio.br

Copyright by    Demac